Luto

O luto por morte é um acontecimento importante que dificilmente será superado com facilidade ou superficialidade dada à profunda ligação ou laço de relacionamento mantido em vida, principalmente, porque viviam muito próximos ou ainda pelo significado que determinada pessoa tem na vida da outra. Como é algo que será vivido por todo homem, mais cedo ou mais tarde, passa ser um fato, não uma doença, uma realidade presente em cada família, em todas as sociedades, sejam modernas ou antigas.

O luto é um processo, não um estado, não é um conjunto de sintomas que tem seu início após uma perda e depois gradualmente se desvanece. O luto envolve uma série de quadros, clínicos ou não, provocados por acidente fatal, morte súbita e que se mesclam e se substituem gradualmente.

O luto não é simplesmente uma perda ou um momento de estresse na vida de uma pessoa ou dos familiares. Perdas são comuns e o luto é uma reação à perda, por isso, considera-se que o luto deveria ser comum, mas não é. Geralmente, é reservado para sentimentos de perda de uma pessoa querida, em especial, alguém muito amado pelos que ficaram.

A morte do marido pode estar acompanhada da redução de rendimentos que leva a viúva a se desfazer das coisas, como vender o imóvel, mudar de emprego ou mudar para um bairro novo em busca de esquecer as lembranças que o companheiro deixou.

Aprender novos papéis, individual e o social sem aquele com quem se contou a vida toda é muito difícil, os tempos de luto/pesar não trarão a pessoa novamente, obrigando quem ficou procurar formas alternativas para gradativamente chegar às lembranças vagas ou mesmo ao esquecimento. As pessoas enlutadas têm sentimentos e procedimentos em comum, que vão além de simples reações de pesar, mas dois fatores são determinantes para qualificar a reação global de uma perda - o estigma e a privação.

O estigma pode estar relacionado ao preconceito, onde os próprios amigos sentem-se desajeitados ou tensos durante um diálogo. A oferta de ajuda ao enlutado e as expressões externas manifestadas, normalmente estão vazias, mas que se traduz em ações necessárias, deixando a nítida impressão que apenas aqueles que perderam o ente querido estão tristes ou enlutados.

O segundo fator é a privação, que implica na ausência de uma pessoa ou um dado objeto, porém, necessários àquele indivíduo. Uma pessoa enlutada precisa reagir tanto à perda como à privação. O pesar é a reação à perda e a solidão é a reação à privação.

O pesar como reação ao luto terá maior intensidade imediatamente após a morte e reduz gradualmente, deixando para trás a reação à privação. Aí, justifica-se tratar o luto como um tipo unitário de estresse, dando menor atenção às perdas secundárias, à privação, à mudança de papéis e ao estigma.

O pesar, por algum tempo, caracteriza-se como uma reação que obscurece outras possíveis fontes de dificuldades. Brabantio apud Otelo (Liii) comentou: “pois meu pesar, em particular, é de natureza tão inundadora e desorientadora, que engolfa e engole todas as outras tristezas”. No fluxo constante da vida, os seres humanos passam por muitas mudanças. Chegar, partir, crescer, decrescer, conquistar ou fracassar são mudanças e toda mudança envolve perda e ganho. As pessoas vêm e vão.